Novas Ferramentas contra a Desinformação

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Depois da pandemia de COVID-19, a guerra na Ucrânia é agora o principal alvo dos distribuidores de desinformação, o que fez do tema da segurança um dos mais debatidos durante o encontro Iberifier (Iberian Media Research & Fact-Checking).

O Observatório Ibérico dos Media Digitais e da Desinformação, de que a ALPMJ (Associação Literacia para os Media e Jornalismo) é parceira, discutiu durante três dias (19 a 21 de outubro) os avanços na batalha contra a desinformação em Granada, Espanha, dentro das principais linhas de trabalho a que se propôs: analisar o ecossistema de media ibérico e identificar tecnologias para deteção de desinformação.

Os investigadores deste consórcio concluíram que os alvos das campanhas de desinformação variam consoante os países e as culturas. No caso da Europa, têm vindo a ser conteúdos anti NATO, anti EUA e anti União Europeia, com foco atual na crise energética, enquanto na América Latina e África se usa a “culpa” do ocidente para pretexto de conteúdos falsos sobre a falta de alimentos nesses territórios.

Beatriz García, do gabinete de relações exteriores do Barcelona Computing Center, recordou que é “quase impossível estabelecer causa e efeito da desinformação”, dificultando a responsabilização dos falsificadores de conteúdos.

A investigadora na área da segurança digital concluiu que algumas estratégias de desinformação se baseiam mais no texto, como foi o caso durante a pandemia, e outras mais na imagem, como tem vindo a acontecer com a guerra na Ucrânia.

A busca de respostas, nomeadamente através da inteligência artificial discutida no encontro, será fundamental para reduzir os danos da reação tardia da sociedade espanhola e portuguesa à desinformação. Para a combater importa deixar a posição defensiva, atuando antes da divulgação. Agindo de forma manipulativa, intencional e coordenada, é preciso quebrar as redes de distribuição de desinformação em vez de reagir depois do mal feito.

Os investigadores envolvidos no Iberifier pretendem medir o impacto da desinformação. Para isso, há que ter em conta a comunidade onde acontece.

Como recordou Ramón Salaverría, a desinformação, problema social, político e de segurança, existiu sempre, mas agora deu-se uma explosão permitida pelas redes sociais: “A desinformação não é apenas falsa, mas tem o desejo deliberado de mentir, não é um erro, é intenção deliberada de enganar”. O investigador principal do Iberifier distinguiu desinformação de opinião discordante, uma confusão que tem contribuído para sociedades mais polarizadas: “Vê-se o distanciamento ideológico como falsidade e não é exatamente assim. As redes sociais foram vendidas como uma Ágora [local de debate e reunião] e afinal revelaram-se um coliseu. Não devemos dar-lhes a categoria de espaço democrático porque não o são”.

No caso português, o investigador do Obercom Miguel Paisana lembrou que em 20 anos o país passou de 20% da população com acesso à internet para 80%, apesar das desigualdades no acesso. Além disso, mais de um quarto dos meios digitais têm sede em Lisboa, aumentando as desigualdades informacionais. No global, em Portugal o interesse por notícias caiu mais de 17% e há cada vez mais portugueses a dizerem mesmo que as evitam.